Na região litorânea de São Paulo, em Santos, terminou neste domingo (18 de setembro) a sexta edição do MIRADA – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas, realizada pelo Sesc São Paulo.
A 6ª edição do Mirada começou sexta-feira (9 de setembro) e, durante 10 dias de programação, teve 24 espetáculos internacionais e 10 brasileiros - além de duas coproduções (Brasil/Bolívia e Brasil/Argentina) distribuídos em 79 sessões. Neste ano foram apresentadas montagens de oito países: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, Espanha, México, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela, além do Brasil, com artistas de Sergipe, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo.
O público pôde conferir esse olhar contemporâneo para as artes cênicas ibero-americanas em salas tradicionais da cidade (como os teatros do SESC, Brás Cubas e Guarany) como também em espaços inusitados e escolhidos especialmente para proporcionar o contato entre cidade e público (galpões do centro histórico de Santos), áreas abertas (praças e parques), além de uma obra “site-specific”, na praça do Cruzeiro Quinhentista, em Cubatão. Compôs a programação também uma instalação visual no espaço de convivência do SESC Santos, inspirada no trabalho do poeta e dramaturgo francês Antonin Artaud (1896-1948). Essa obra serviu de local para uma série de 12 performances artísticas novamente atravessando espaço e público em momentos impactantes. Além das atividades formativas.
O festival contou com um orçamento, segundo a organização do Mirada de aproximadamente de 6,2 milhões para o pagamento de artistas e companhias nacionais e estrangeiras, sem apoios de editais ou leis de incentivo. Contribuiu com a Mostra investimentos de órgãos estrangeiros de fomento e financiamento cultural que se responsabilizaram por uma importante contribuição em auxílios variados viabilizando a vinda de diversas companhias internacionais para essa edição do Mirada.
Com nove peças escaladas na programação, Portugal foi o país homenageado desta edição. As obras lusitanas refletem criticamente os sintomas da colonização e os processos migratórios.
A abertura oficial ficou por conta do Viagem a Portugal, Última Paragem ou o que Nós Andámos para Aqui Chegar, do Teatro do Vestido (Portugal). O livro Viagem a Portugal, de José Saramago (1922-2010) empresta nome ao espetáculo do coletivo e foi uma das motivações para que seus integrantes refletissem sobre o caminho que os trouxe até ali, bem como a seus familiares, mostrando, consequentemente, a história do povo português. Também nortearam a pesquisa o conto A Viagem, da poeta Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), e a circulação pelo interior de Portugal durante meses no ano da estreia, 2019. O texto e a direção são assinados por Joana Craveiro.
Apesar da homenagem ser a Portugal, os destaques ficaram com os grupos da América Latina e brasileiros. Um deles foi La Mujer que Soy, do Teatro Bombón (Argentina), a narrativa transcorre simultaneamente e de forma sincrônica em dois espaços que se inter-relacionam. Cada apartamento dá conta de uma perspectiva da história, permitindo à audiência compreender o todo, cada pessoa opta por ver um dos ângulos ou visitar os dois nichos adjacentes na ordem que desejar. A dramaturgia do diretor Nelson Valente versa sobre a incondicionalidade do amor e suas múltiplas facetas.
Também chamou a atenção outro trabalho da América Latina, Hamlet, do Teatro la Plaza (Peru). Artistas adolescentes e adultos com síndrome de Down apropriam-se da tragédia de Shakespeare incorporando seus relatos pessoais ao clássico, que diz sobre agir e posicionar-se diante dos acontecimentos da vida. Sob dramaturgia e direção de Chela De Ferrari, o elenco divide anseios e frustrações através de uma versão livre da obra.
O solo Tijuana, de Lagartijas Tiradas Al Sol (México) também despertou grande interesse. O ator Lázaro Gabino Rodríguez encena a experiência que teve durante cerca de seis meses, período em que se tornou Santiago Ramírez, morador da maior cidade do estado mexicano de Baixa Califórnia, que faz fronteira ao Norte com o estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Por 176 dias, enfrentou condições adversas que o separavam de seu mundo habitual, e onde permaneceu incomunicável enquanto trabalhava sob remuneração mínima em uma fábrica de tijolos da região. Usando projeções como recurso narrativo, a encenação busca contar e problematizar essa jornada.
Também integram essa lista de destaques Dragon, de Guillermo Calderón e Reminiscência, da Compañía Le Insolente Teatre (ambas do Chile) e as brasileiras: Erupção – O Levante Ainda Não Terminou, do Coletiva Ocupação (SP), Festa de Inauguração, do Teatro Do Concreto (DF) e Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos, da Companhia de Teatro Heliópolis (SP).
Em dez dias de programação, um total de 17.503 ingressos foi alcançado nas salas de teatro, com lugares marcados. Esse número não conta com as apresentações em espaços abertos, ou atendimentos em fruições livres e abertas.
O festival movimentou a cidade de Santos e região antes, durante e após a sua realização, impactando especialmente os setores de serviços, turismo, hotelaria e alimentação. Para a organização, “Isso reforça o entendimento de que ações culturais são capazes de movimentar aspectos sociais, simbólicos e econômicos no território”. A próxima edição do Mirada está prevista para setembro de 2024 ainda sem definição de programação.
A editora do site, Michele Rolim, foi convidada pelo festival para acompanhar a programação.
Tijuana, de Lagartijas Tiradas Al Sol (México) é protagonizado por Lázaro Gabino Rodríguez Credito: Festival Escenas do Cambio