Dura Máter
Clóvis Dariano

O espetáculo de dança Durá Máter, indicado e ganhador de diversos prêmios Açorianos no ano da sua estréia em 2019, retrata a trajetória da mulher na sociedade ao longo da história, através  da dança Tribal por uma perspectiva feminista. Tendo emocionado o público nas suas diversas apresentações, o espetáculo chama atenção com cenas e imagens marcantes, além de tocar em questões profundas e doloridas das diversas violências, abusos e desigualdades sofridas pelas mulheres ao longo da vida. O espetáculo inicia antes mesmo da entrada do público, com a imponência da imagem estática de ‘Dura Máter’, a ‘Dura Mãe’ representando os pressupostos opressores da sociedade, através de uma longa saia, cobrindo grande parte do palco, usada pela protagonista que segura uma caixa fechada. O mito greco-romano de Pandora é apresentando dando luz ao imaginário da mulher como causadora dos males do mundo. Ao abrir a caixa, a longa saia começa a movimentar e vemos a imagem de mulheres saindo debaixo da saia, do ventre de Pandora, acompanhada por várias frases de cunho machista como: “mulher tem que ser delicada”, “não pode usar roupa curta”, “não corta o cabelo”, “mulher não fala palavrão”. A partir desse momento, o espetáculo se desenvolve apresentando coreografias onde a padronização feminina e os resultados de uma educação sexista ganham destaque sobre as danças das protagonistas. O espetáculo mostra questões como o comportamento de obediência e silenciamento ensinado às meninas, representado através de uma bailarina presa na caixa de música. A obsessão pela busca do corpo perfeito e a epidemia de cirurgias plásticas entre o público feminino. O impacto dos abusos sexuais dando ênfase às muitas mãos que nos tocam. O adoecimento físico e emocional das mulheres ao longo da vida por conta da dificuldade de se desprender dos padrões impostos, visto por bailarinas aprisionadas e atadas pelos seus cabelos e pela coreografia abordando a depressão feminina. E a mais recente coreografia problematizando a romantização da maternidade. Ao final, as bailarinas retornam para dentro da saia da protagonista. O espetáculo encerra com a mesma imagem da abertura, dando a ideia de repetibilidade e de um tempo cíclico. Porém agora a caixa se mantém aberta dando a possibilidade de romper com esse ciclo na construção de um novo olhar através do questionamento. Após o encerramento, uma instalação de um varal de roupas é posta no saguão, com informativos e estatísticas importantes sobre a opressão das mulheres e a performance de bailarinas.


Portifólio do Espetáculo:

https://drive.google.com/file/d/10TMD75usFT8vxl12riYBSJVXeInGHEPz/view?usp=sharing