RINHA
Liege Ferreira

Como castigo divino, a mulher amaldiçoada se transforma em mula. Um ser que, mesmo reconhecido pela ausência da cabeça, regurgita pelas ventas o fogo do inferno. Tal criatura não relincha mas geme, como um ser humano. Geme de dor. RINHA revisita a fábula brasileira da Mula sem Cabeça, para propor uma atualização da história. O mesmo animal fantástico responderia aos mesmos pecados no dia de hoje? RINHA cambaleia entre a ideia de ser mulher, ser bicho ou coisa. O que delimita esses contornos? Que silhueta é necessária para dar conta de certas narrativas? Que sentimento mais doloroso e incrustado é esse que somente quem socialmente é lide como mulher sabe? O que me torna mulher, afinal de contas? Eu tenho opções? É uma maldição? Quanto tempo ainda temos que falar sobre esses mesmos tópicos? Sem cabeça ela dança, geme, e faz perguntas.