Raiz Amarga
Bernardo Jardim Ribeiro

Com dramaturgia de Clóvis Massa e Letícia Schwartz, Raiz Amarga é um espetáculo teatral imersivo. O título faz referência ao maror, um dos símbolos do Seder de Pessach, celebração milenar que versa sobre a libertação judaica da escravidão no Egito. As ervas amargas, especificamente a raiz forte, é elemento emblemático, presente na tradicional keará, prato que reúne alimentos simbólicos e que representa, através do maror, a amargura das perseguições. Procurando romper com a configuração tradicional de palco e plateia, a concepção de Raiz Amarga lida com uma proposição de intimidade, investigando formas de interação a partir da configuração cenográfica e do jogo de atuação direto com os espectadores. O público é convidado a vivenciar a experiência do ritual de Pessach dentro da “caixa cênica”, transformada em
“sala de jantar". A montagem mistura memórias que a atriz Letícia Schwartz guarda de sua avó Reli Gizelstein Blau, sobrevivente do holocausto, com os rituais, tradições, cânticos e preparações para o Pessach, revelando o universo de uma tradição particular.
Ao lado de Letícia, a atriz Arlete Cunha une-se à celebração e o público é convidado a partilhar alimentos, traumas e alegrias. A raiz amarga, junto com o vinho, a matzá, e outros elementos, convidam a lembrar, ano após ano, a narrativa da Hagadá de Pessach, relato que encontra paridade muitos disparates contemporâneos: o nazismo e outras tantas perseguições e intolerâncias, sejam culturais, étnicas ou religiosas, que forçam pessoas, famílias inteiras, cidades inteiras, a peregrinar buscando refúgio fora de seu país de origem, devido a temores relacionados a nacionalidade, pertencimento a grupos sociais ou opinião política, e sobretudo devido à grave e generalizada violação de direitos humanos e aos conflitos bélicos. Uma realidade para mais de 25 milhões de pessoas refugiadas em todo o mundo.

Raiz Amarga embaralha memórias da atriz Letícia Schwartz aos testemunhos de sua avó, sobrevivente dos campos de concentração. A montagem, que estreou em setembro de 2023, recebeu recentemente o Prêmio Açorianos de Espetáculo Teatral Adulto, Atriz, Diretor, Dramaturgia e Cenografia.