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Nosso corpo é atravessado por afetos, ideologias, valores, culturas e normas sociais. Um corpo que é não só individual mas também político já que se forma e se transforma por ação do coletivo. Na montagem Acuados, com direção coreográfica de Eva Schul, apresentada durante o Festival Dança.com, isso é facilmente visualizado.
Os bailarinos-intérpretes Driko Oliveira, Bianca Dias Weber, Emily Chagas e Everton Nunes, Fernanda Santos e Jackson Conceição retratam por gestos e movimentos as relações violentas às quais as mulheres estão submetidas. Não por acaso, o espetáculo chega no momento em que se comemoram os 10 anos da Lei Maria da Penha.
A composição corporal de cada bailarino estabelece um paradoxo: beleza e horror coabitando concomitantemente no espaço. Ao mesmo tempo em que esses corpos dançam ao som de óperas de amor, eles se agridem.
Se a representação da mulher, por vezes, acabava reafirmando uma postura de vitimização da “condição feminina”, em outros momentos, a não-passividade - como no gesto em que uma das bailarinas tira o lenço que cobria os seus olhos e o coloca no homem - mostra que a mulher também pode se empoderar. No entanto, assim como na realidade a força física do homem prevalece, apesar da luta entre os dois corpos ser constante. E é nessa ambivalência que o espetáculo se constrói.
Esse combate não cessa durante os 50 minutos da apresentação, obrigando a plateia a encarar cenas brutais através da beleza visual. Os corpos do público estão inquietos também, alguns dos rostos estão virados levemente para o lado, como a rejeitar a brutalidade no palco, mas seus olhos estão fixos na cena.
Podemos nos questionar se essa ambivalência seria uma das melhores formas de representatividade da mulher nos dias atuais. É uma gangorra entre o que causa a mera compreensão e compaixão no espectador com a desconstrução das expectativas e normativas de gênero. Podemos dizer que há ativismo, mas também existe poesia.
O que é interessante também é que o título Acuados está no masculino e não no feminino, o que reforça o caráter de acusação. Eva está ciente disso, tanto que, ao final do espetáculo, foi ao palco para frisar que se trata de um espetáculo de denúncia.
Não é de hoje que a coreógrafa e diretora trabalha a questão do feminino em seus espetáculos. Ao longo de 25 anos, muitas montagens da sua Ânima Companhia de Dança abordaram as dificuldades de relacionamentos, questões de hierarquia e os papéis que cada um exerce dentro de uma relação. Ao invés da sutileza, dessa vez Eva optou pela radicalidade.
E como não ser radical em um país, o Brasil, que ocupa a 5º posição em um ranking global de assassinatos de mulheres. Treze mulheres são assassinadas por dia e a maioria desses crimes foi cometida por alguém da própria família. A radicalidade é um caminho, por vezes, necessário para sublinhar o que foi socialmente construído, conforme circunstâncias históricas e culturais específicas, e que é, portanto, possível de ser mudado.
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Direção geral e coreográfica: Eva Schul
Ensaiadora: Viviane Lencina
Intérpretes Criadores: Driko Oliveira, Bianca Dias Weber, Emily Chagas, Everton Nunes, Fernanda Santos, Jackson Conceição
Produção: Luka Ibarra e Ana Paula Reis/Lucida Desenvolvimento Cultural
Iluminação: Guto Greca
Trilha Sonora: Leonardo Dias
Figurinos: Luciane Soares
Cenografia: Rodrigo Shalako
Fotografia: Raquel Basso