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Três estados periféricos - Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Sul - estiveram reunidos no dia 16 de maio, no Teatro de Arena de Porto Alegre, dentro do seminário Práticas Políticas da Cena Contemporânea. A jornada, coordenada por Patrícia Fagundes, teve como tema A cena fora do eixo. No encontro foram levantadas as questões: O que é estar fora do eixo? Quais as possibilidades para quem não faz parte do circuito? Como e quando essa cena dita marginal é reconhecida?
A atriz e professora da Universidade Federal do Maranhão, Gisele Vasconcellos, que atua no grupo Xama Teatro (MA), começou sua fala colocando que, além da questão geográfica, o teatro maranhense é periférico também por conta da inexistência de editais culturais no Estado, restando a alternativa de disputar editais federais. Mesmo enfrentando um contexto ainda dominado pela “política dos coronéis”, os artistas já conseguem sustentar uma série de iniciativas, como a Semana de Teatro no Maranhão. O Xama Teatro integra a programação do Palco Giratório com o espetáculo de teatro de rua A carroça é nossa.
O coordenador do Centro Municipal de Dança de Porto Alegre, Airton Tomazzoni, citou como exemplo de “ser fora do eixo” Jean-Georges Noverre (1727-1810), bailarino e professor de balé francês que começou de forma periférica, mas mudou os rumos da dança. Para Tomazzoni, “estar fora do eixo, é significativo para produzir coisas experimentais”. Em Porto Alegre, ele destaca o Grupo de Dança Experimental, que existe há 10 anos, e aponta que a dificuldade de recursos financeiros aliada ao não reconhecimento local do que está sendo produzido ajudam a manter as produções gaúchas no eixo periférico. Conforme Tomazzoni, a cultura tem que estar sempre se reinventando para não ser normatizada pelo sistema capitalista.
A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e encenadora do Coletivo Teatral Ser Tão Teatro (PB), Christina Streva, fez um discurso acalorado sobre a situação política pela qual passa o país, tendo como ponto de partida a extinção do Minc e descrevendo como isso interfere de forma direta nos grupos fora do eixo. Quando ela começou a fazer teatro, no inicio dos anos 1990, dava-se início à criação de mecanismos de incentivo da indústria cultural do país, como a Lei Rouanet, mas eram poucos os privilegiados que conseguiam participar desses financiamentos.
Segundo ela, a gestão do Ministro da Cultura Gilberto Gil (entre 2003 e 2008) foi um marco decisivo para que a cena fora do eixo se movimentasse. “Pela primeira vez, o dinheiro chegou, foi possível durante uma década se viver de teatro”, exclamou. Para ela houve um reconhecimento, principalmente durante os governos Lula (2003-2010), dos grupos que estavam à margem batalhando e resistindo pela cultura. Com esse dinheiro foi possível fazer circulação dos grupos, aproximar-se de outras produções do Nordeste e buscar públicos que até então nunca haviam visto teatro. O coletivo da Paraíba está na programação com o espetáculo Flor de Macambira.
No entanto, para ela a preocupação agora é o que restará para o futuro. “Estamos correndo o risco de um retrocesso histórico”, afirmou. Ela afirmou que ainda não é possível viver dos mecanismos de autossustentabilidade e fez um apelo: “Precisamos arrumar formas de continuar fazendo teatro, porque não vamos deixar nada para a próxima geração”.
Acompanhando a fala de Christina, a atriz e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Mirna Spritzer citou os avanços de Porto Alegre e apontou que o amadurecimento do teatro gaúcho começou com a criação do Curso de Arte Dramática (atualmente DAD – Departamento de Arte Dramática) dentro da UFRGS, em 1957, atendendo a uma demanda das classes estudantil e intelectual. Nas décadas de 70 e 80 e no início dos anos 90, houve uma proliferação de grupos teatrais na cidade – Grupo Teatro Vivo, Grupo Tear, Cia Teatral Face & Carretos, Cia de Teatro di Stravaganza, entre outros - alguns deles ainda em atividade.
E lembrou que, no Rio Grande do Sul, ainda é considerado um artista de sucesso quem constrói uma carreira em outro Estado e depois retorna para a cidade. Mirna lembrou que, nos anos 60, o RS exportou uma geração de muitos talentos, mas agora não se precisa sair porque é possível circular nacionalmente com os espetáculos. Convidada e plateia lembraram a oportunidade de assistir a espetáculos oferecida pelos festivais Porto Alegre Em Cena, Festival de Teatro de Rua e Palco Giratório. “Precisamos resistir. O que fazemos é uma arma não-partidária. O teatro nasce político porque ele se reconhece no outro”, disse Mirna que fez uma performance cantando uma canção dos espetáculos de Brecht. A plateia e os convidados aplaudiram longamente ao final do encontro ao som de Apesar de você, de Chico Buarque.
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