*Atenção: o arquivo deve ter no máximo 500kb.
*Nome que será exibido na barra de endereços. Não deve conter espaços ou acentos. Ex.: www.agoracriticateatral.com.br/criticas/nome-da-critica.Caso não seja preenchido, será gerado automaticamente com base no título.
A escalação dos convidados que integraram a mesa garantiu o sucesso do encontro Negritude em Cena, realizado no dia 10 de maio, no Teatro de Arena de Porto Alegre, dentro do seminário Práticas Políticas da Cena Contemporânea. A coordenadora do ciclo, Patricia Fagundes, escalou três criadores negros que apresentaram estratégias diferenciadas para a superação do racismo, para a firmação de uma estética e para a construção de um Teatro Negro.
Jessé Oliveira, diretor do grupo Caixa-Preta, que se caracteriza por seu elenco majoritariamente de negros e por montagens que releem clássicos do teatro ocidental a partir da cultura afro-brasileira, questionou onde estaria a negritude em cena. Na temática das peças? Na cor da pele dos artistas? No gestual? O gaúcho condenou a arte cuja narrativa está sujeita à supremacia branca europeia e que resume o negro a estereótipos, mas alertou para o risco de o engajamento interferir no resultado artístico: “Em sua maioria, o Teatro Negro é ativista, e assim deve ser, mas por vezes acaba colocando aspectos estéticos em segundo plano”. Segundo ele, é necessário estar atento ao binômio forma/função da arte: “não adianta ser politicamente relevante e não ser cenicamente cativante”.
Eugênio Lima, DJ, ator-MC, coreógrafo, integrante dos coletivos paulistanos Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e Frente 3 de Fevereiro, defendeu ações artístico-políticas contundentes. Lima começou lembrando seus contatos iniciais com o teatro: não havia negros nem no palco nem na plateia, inexistia temática ou estética ligadas à sua raça. Naquele momento, para ele, o hip hop era uma via mais consequente e natural pois subvertia a supremacia branca: o negro era o performer e o dramaturgo, o palco era a periferia, o público era todos. Entremeando versos dos rappers Thayde e do Racionais MC’s em suas falas, resumiu: “O negro não está em cena. Ele é sentido por sua ausência em cena”. E mais: “No Brasil, a grande disputa é pela narrativa. A narrativa está sendo subtraída dos narradores”, “Todo teatro é político. Mas como levar à cena? De toda maneira, a forma e a estética já são um discurso político em si”.
Lima descreveu como foi a ação Em Legítima Defesa, uma série de intervenções que atores negros realizaram durante a MITsp, em março passado. A polêmica se iniciou quando a peça Exhibit B, do sul-africano branco Brett Bailey, foi desconvidada pelo festival depois de acusada de racista pelo movimento negro. A explicação oficial foi falta de verbas. Os atores ficaram num fogo cruzado – criticados por ativistas negros, apoiados por racistas brancos. A solução foi criar intervenções dirigidas por Lima ao final de três espetáculos do festival, em que os atores negros escalados para Exhibit B provocavam o público sobre a questão racial. A intervenção chegou até o vetusto Theatro Municipal de São Paulo, expondo que havia apenas 14 negros em um público de mais de mil pessoas.
A atriz, professora e diretora gaúcha Celina Alcântara, do grupo Usina do Trabalho do Ator (UTA), registrou seu pioneirismo como primeira aluna negra a se graduar em Teatro na UFRGS e de ser a primeira professora negra no Instituto de Artes da UFRGS. Ela lembrou que várias montagens da UTA têm temas ligados à negritude – uma discutia a presença dos negros nos antigos Carnavais de Porto Alegre, outra a relação entre mulheres brancas, negras e índias no RS. Disse que sua militância tem se dado pelo trabalho artístico e como professora. Na primeira peça infantil em que trabalhou, afirmava sua identidade quando sua personagem cantava que era negra e era linda. Além disso, “Só o fato de os alunos terem uma negra como professora já é um fato novo”.
O debate aberto ao público, inclusive com a participação de parte do elenco de Qual a Diferença entre o Charme e o Funk?, montagem dirigida por Thiago Pirajira e orientada por Celina, atração do Palco Giratório, buliu com vários aspectos tão sensíveis como complexos. Existe um Teatro Negro? Ser classificado como Teatro Negro é uma limitação estética? É também uma redução de origem racista? Quem pode se juntar à luta contra a hegemonia branca? De que maneira o lugar de quem se coloca interfere na sua compreensão e até na forma de participação? A restrição a que só negros façam Teatro Negro não significa introjetar uma estratégia de exclusão? Lima ofereceu sua solução: a vida é maior, não se deve fugir à complexidade dessas questões, as soluções se alternam e se renovam.
O encontro terminou com Celina convocando as mais de 70 pessoas presentes ao Arena a cantarem com ela uma canção criada pelos negros sul-africanos durante o Apartheid. A letra pregava “Vamos seguir em frente”. Foi o resumo emocional do encontro.
**insira todas as tags, separadas por vírgula (,)
Selecione os Festivais em que essa peça foi exibida. Utilize a tecla Ctrl para selecionar mais de uma opção.