*Atenção: o arquivo deve ter no máximo 500kb.
*Nome que será exibido na barra de endereços. Não deve conter espaços ou acentos. Ex.: www.agoracriticateatral.com.br/criticas/nome-da-critica.Caso não seja preenchido, será gerado automaticamente com base no título.
No final de semana [de 12 e 13 de março], Stuttgart viu afluírem pessoas ligadas ao teatro numa constelação até então inédita. O ensejo era a nova peça de um dos mais importantes autores teatrais de língua alemã. A peça era "simplesmente" sobre um casal - mas como se sabe: justamente o mais simples pode ser muito complicado. É o que se vê aqui novamente, quando Fritz Kater concebe sua história romântica em três níveis de tempo e numa trama policial e thriller de espionagem desenrolando-se pelo mundo todo.
Kater acaba de ser convidado a levar uma peça ao encontro de teatro de Mülheim, o mais importante festival em torno de novos textos dramáticos em língua alemã. Com isso, ele palmilha a estepe da desilusão, da euforia da decolagem para o sucesso da República de Bonn dos anos 1960 até o mundo de hoje, que descamba em todas as crises imagináveis. A primeira montagem de "Buch (5 ingredientes de la vida)" foi dirigida por Armin Petras, numa coprodução do Münchner Kammerspiele com o Stuttgarter Schauspiel, onde ele é sabidamente administrador do teatro. Diga-se de passagem, todavia, que Petras é também ainda o alter ego de Fritz Kater.
Muitas coisas, então, se acumulam e a gente se pergunta de onde essa criatura tira o tempo e a energia para tudo isso. Agora, com uma nova peça de Kater pronta para ser montada, Petras resolve não atuar como diretor. O diretor desta vez é Jossi Wieler, que administra a Ópera de Stuttgart, a um pulo dali. Wieler é um sujeito tranquilo, pensativo, e um diretor sereno, que captura as peças pela linguagem e as faz soarem. Agora, voltando a fazer uma montagem no Schauspiel depois de seis anos de abstinência, pôde contar com Fritzi Haberlandt e André Jung, ambos figurando entre os melhores atores do país.
Eles formam o casal romântico de uma história na qual uma certa Rieke é violentada durante a II Guerra Mundial, cai nas mãos do nazista Hauser e trabalha para o abusador. O jornalista Maibom, em contrapartida, caça antigos nazistas a serviço do Mossad, de Israel, e se debate com a dor fantasma numa perna amputada. Mas muito mais doloroso do que isso é descobrir que Rieke tem um passado nazista obscuro, que o conduz exatamente àquele Hauser, que ele caçava em vão. Ele provavelmente continuará a amá-la, e tudo leva a crer que Rieke e Maibom têm antecessores - começando por Pentesileia e Aquiles, de Heinrich von Kleist, em Pentesileia, passando por Patricia e Michel no Acossado, de Jean Luc Godard, até Jane e John, aliás Jolie e Pitt, em Mr. and Mrs. Smith. Na cama, eles se fundem, mas para além da cama são absolutamente estranhos um ao outro. "Beijar, abocanhar, despedaçar", gostaríamos de dizer junto com Kleist.
Então é assim o amor romântico? Ou, perguntando de outra maneira: não é necessário que o amor seja assim para ser abençoado com toda a dor do coração que nos faz acreditar que a dois somos mais do que sozinhos? Por fim, Kater necessita para sua história de amor no período entre 1941 e 1989, situada em Berlim e Bonn, no Eifel, em Tel Aviv e Havana, não mais do que trinta páginas. I’m searching for I:N:R:I (uma fuga sobre o tema da guerra) é um texto enxuto e com tintas sensacionalistas e comprova uma vez mais o fato de que alguém à procura de algo está no rastro de si mesmo. Fritz Kater reporta-se a peças como zeit zu lieben zeit zu sterben (em português, tempo de amar tempo de morrer), com as quais ficou conhecido logo após a virada do milênio. Seu mais novo texto teatral não é de modo algum o seu melhor. Mas Jossi Wieler deixa bem claro desde o início que apostará todas as suas fichas na linguagem do autor e num André Jung que parece uma mistura do Homo Faber, de Max Frisch, e do Philip Marlowe, de Raymond Chandler.
A expressão corporal de Jung é de alguém à procura de algo e tensamente cansado. É realmente magnífico como ele se coloca ao mesmo tempo como ator e narrador, como sugere atmosferas e se orienta no palco de escombros de Anja Rabe. O mundo está fora dos eixos. Seu perigo nós vamos perceber um pouco depois, quando a Rieke de Fritzi Haberlandt saltita descalça como uma corça arisca sobre o solo cheio de arestas afiadas. Ela representa a garota atrevida, despreocupada, que de uma hora para outra se transforma numa lady sorridente e misteriosa. Também isso é encenado por Jossie Wieler de forma desacelerada e muito precisa. Ele dá espaço aos personagens, mesmo quando se tratam de um jovem rapaz (Matti Krause) e de outras mulheres (Manja Kuhl, Lucia Emons) na vida de Maibaum. A direção faz o que pode, mas mesmo assim temos sensação de que I’m searching for I:N:R:I (uma fuga sobre o tema da guerra) é concebida de maneira mais generosa do que foi montada. E é talvez também um material que poderia render uma trilogia de romances, no mínimo.
**insira todas as tags, separadas por vírgula (,)
Selecione os Festivais em que essa peça foi exibida. Utilize a tecla Ctrl para selecionar mais de uma opção.
I’M SEARCHING FOR INRI
De: Fritz Kater
Direção: Jossi Wieler
Cenário e figurinos: Anja Rabes
Música: Wolfgang Siuda
Vídeo : Chris Kondek
Dramaturgia : Jan Hein
Iluminação: Felix Dreyer e Rainer Eisenbraun
Com: André Jung, Fritzi Haberlandt, Manja Kuhl, Lucie Emons e Matti Krause
Duração: 120 minutos
Foto: Thomas Aurin