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Sábado de manhã, o grupo de críticos inicia a discussão do espetáculo acompanhado na noite anterior. Os brasileiros sentem necessidade de falar do texto fonte de Heiner Müller. Para Soraya Belusi, a conexão entre a encenação e o original alemão não existe, ou seja, seria possível utilizar somente o texto de Eurípedes. "Não conseguiram se conectar com Heiner!" Ela leu o texto de Müller uma vez, e é enfática. Para ela, a dimensão política que o autor traz em seu texto foi deixada de lado, enquanto o relacionamento entre homem e mulher foi privilegiado.
Questões essenciais da encenação são abordadas. "Eles parecem organizados demais para remeter a Heiner Müller. Por mais que façam bagunça, é tudo muito controlado. Heiner Müller não seria mais caótico? As cenas são tão treinadas que não se vê acontecer a catarse." Essa é a opinião de Ruy Filho.
Surge de repente uma divisão. Michele Rolim enxerga uma busca de potência na relação com Heiner Müller por meio do aspecto visual da peça, enquanto os demais enxergam uma ênfase na imagem plástica, sem conseguir a potência simbólica.
Ruy se inquieta: o trágico tem que ser gritado? O performático tem que ser lento? A luz literal? O azul, melancólico? Tudo me parece muito redundante, sem ruído. Aqui, Michele já concorda: a trilha sonora é excessiva, muito ilustrativa.
E as atuações finalmente entram na baila: o trabalho da atriz Fernanda Petit foi considerado "dramático" demais. Ela usa uma ênfase excessiva que não corresponde ao texto, apesar de existir uma grande tentativa de elaboração. "Ela se aproxima mais da construção de personagem, consegue ser tão histérica quanto propõe o diretor", opina Mateus Araújo.
Ruy gosta mais da performance do ator Vinícius Meneguzzi, por considerar Fernanda Petit inconstante. Mas Soraya aponta que os atores pertencem a dois universos distintos, ou seja, não parecem fazer parte da mesma peça. Cada um no seu planeta.
Jürgen questiona se a relação entre homem e mulher, ao menos, convenceu, já que aparentemente foi essa a proposta de abordagem da encenação. Para Soraya, aparece somente a tensão sexual entre eles, o que limita a leitura do mito, que traz relações muito mais complexas.
"Eu não tenho nada contra o sexo, que fique claro", brinca Soraya.
Mas será que o público entendeu a peça? Esse questionamento dá o que falar. Para Berger, quando um encenador opta por um tema clássico, "não tem controle sobre o que as pessoas sabem do mito".
A imagem dos peixes simbolizando os dois filhos foi considerada potente por Soraya, e redundante por Berger. Não me aguento e dou meu pitaco: é interessante que o espectador que não conhece a história descubra de repente o que eles representam, o que agrega força.
Mas será que foi só um drama da relação? Sim, a maioria concorda. Com recursos contemporâneos (narração em off, teatro físico, pouca interação entre os personagens, luz fria), o grupo propõe uma forma contemporânea para um conteúdo que não é trazido para os dias de hoje.
Outras encenações de "Medeia" foram lembradas, como a do coreógrafo grego Dimitris Papaioannou, bem como "A Marca D'Água", do Armazém, que também usa uma piscina em cena. Já Berger não vê problema em diretores se apropriarem um do trabalho do outro, mas pergunta se a apropriação foi convincente.
Resumindo a discussão acalorada dos críticos, viu-se uma grande dedicação, seriedade e responsabilidade na realização dos criadores gaúchos. Percebe-se que estão num caminho que pode ser amadurecido.
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