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No contexto atual das artes cênicas brasileiras, uma das principais formas de atuação e, principalmente, remuneração da crítica especializada, e toda a cadeia produtiva ligada a ela, são os festivais e demais eventos institucionais. Cada vez mais, os festivais de artes cênicas e suas equipes de curadoria e produção tem aberto espaço e acolhido/estimulado a crítica como uma possibilidade fértil de aprofundamento e valorização de suas programações, desdobrando e estendendo a experiência teatral para além do ato único e localizado do encontro entre obra e público. Espaços abertos e mantidos a partir da consciência mútua de que o exercício da crítica também é parte intrínseca da experiência e da fruição teatral, além de ser agente importante no sistema produtivo, conceitual e profissional das artes cênicas.
No entanto, não temos visto isso ocorrer no Rio Grande do Sul com raras exceções, nos últimos anos: a capital Porto Alegre que abriga três importantes e longevos festivais - Porto Verão Alegre, Festival Palco Giratório Sesc POA e Porto Alegre em Cena - não tem como prática continuada convidar (e viabilizar) críticos e críticas para escreveram sobre os espetáculos em suas programações. Diferentemente de outros eventos igualmente regulares e de impacto nacional, como o Festival de Teatro de Curitiba, o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (FIT-Rio Preto), MIRADA – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas, Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp), dentre outros, bem como festivais de pequeno e médio porte como o Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha, em Itajaí/SC e o Festivale (Festival Nacional de Teatro do Vale do Paraíba), em São José dos Campos/SP, e ainda dois festivais gauchos como Festival de Teatro de Gravatai e que investem parte de seus recursos na prática qualificada da crítica. Entendemos ser essa uma atividade fundamental para o crescimento do setor das artes cênicas, que produz não apenas reflexão, mas também está preocupado com um registro histórico e contextualizado das artes.
Entendemos que as eventuais dificuldades orçamentárias dos festivais não são justificativas para tal descaso, sendo que, normalmente, a remuneração da prática da crítica representa menos de 5% do valor total de um festival. Montante que se torna ainda menor em relação aos ganhos de curto e longo prazo obtidos pelos eventos, ao longo dos anos. São prioridades. E, infelizmente, a crítica parece não estar na lista de prioridades dos organizadores e curadores dos festivais de Porto Alegre, na última década.
Com a retomada das políticas públicas para a cultura por parte do governo federal (após o sistemático desmanche e ataque às artes), somadas a ações de nível estadual e municipal por todo país, é de se esperar (e de se batalhar) que a crítica seja mais estimulada e cultivada – financeiramente, inclusive – dentro dos eventos e outros programas pontuais e continuados, Brasil afora.
É fundamental destacar que a crítica desempenha um papel crucial na cadeia produtiva do Teatro, exercendo influência significativa na sua dinâmica. Ela contribui para a historicidade, reflexão e formação da cena. Dessa maneira, a crítica emerge como um agente catalisador, instigando o aprimoramento constante da arte teatral, tornando-se uma força motriz essencial no cenário cultural e artístico.
Colocamo-nos à disposição, para contribuir na construção e manutenção de espaços de reflexão, juntando forças por eventos cada vez mais abertos e estimulantes. O teatro, as artes e a sociedade gaúcha e brasileira só têm a ganhar.
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