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Esse texto faz parte do Projeto Arquipélago de fomento à crítica, com apoio da Corpo Rastreado
Muitas vezes, as pessoas têm medo.
Medo do desconhecido, do diferente, do que não atende aos padrões inventados e criados por uma sociedade que se coloca como detentora de normatizações.
E o medo pode se tornar um forte propulsor de tensões, violências, defesas.
O clássico Frankenstein, da escritora britânica Mary Shelley, escrito em 1816 e lançado em início de 1818, suscita discussões filosóficas e existenciais diante de questões sobe pertencimento, egocentrismo, relações afetivas e sociais, entre outras. Provoca a refletirmos sobre “quem somos no Mundo” e quais nossos possíveis caminhos.
Em um movimento que soa, quase, paradoxal tendo em vista que a história narra a criação, pelo Dr. Victor Frankenstein, de uma criatura a partir de pedaços de cadáveres, com o auxílio de uma descarga elétrica para o sopro de vida – considerado por muitos estudiosos o primeiro livro de ficção científica da História que estabeleceu as bases dos sci-fis de terror – em contraponto aos conceitos de supremacia divina e religiosa na criação do ser.
A obra já se tornou material de pesquisa e referência para inúmeras adaptações e releituras, seja na própria literatura, como no cinema, teatro e artes visuais. Quando o Projeto GOMPA traz à cena Frankinh@ - uma história em pedacinhos, transita pelo universo Infantojuvenil, já trabalhado pelo cinema e HQs, para falar sobre diversidade, preconceitos, solidão, amor e amizade. A peça, vencedora do Prêmio SESC de Artes Cênicas, estreou em dezembro de 2022 e voltou em cartaz dentro do 2º Festival de Teatro para Crianças em Porto Alegre em março deste ano.
Um espetáculo teatral que aporta a força da sua linguagem estética e dramatúrgica na narração, gênero próprio do “contar histórias”. Uma voz que apresenta as personagens, encadeia os fatos e eventos apresentados, transitando pelo passado e presente, o antes e depois, o aqui e agora da Cena. Uma correlação de acontecimentos, no tempo e espaço, que desenha a história aos olhos do espectador, em combinação com a atuação, dança, música e efeitos de ilusionismo – construídos através da iluminação, adereços cenográficos e manipulação de objetos – performados pelos atores em cena. Recurso esse, da narração, já explorado, antes, em outras montagens com direção de Camila Bauer, como o infantil Chapeuzinho Vermelho e Instinto, espetáculo adulto estreado neste ano de 2023.
Liane Venturella compõe com sua voz e presença cênica o texto narrativo, adaptado da história de Shelley, para dar vida às personagens do menino que se sentia muito sozinho, que decidiu que queria ser um grande cientista e que, quase sem querer, fez uma criatura para ser sua amiga. A história de um menino tímido e sozinho interpretado por Thiago Ruffoni e de uma criatura, criada por ele, com atuação de Fabiane Severo, junto a uma equipe com nomes conhecidos nas artes da cena gaúcha e nacional, como Carlota Albuquerque, Simone Rasslan, Álvaro Rosa Costa, Elcio Rossini, Ricardo Vivan, entre outros que compõem a ficha técnica desse trabalho.
Um trabalho teatral que cria e desenha tramas muito bem amarradas entre dramaturgia, visualidades, sonoridades e iluminação para sua concepção cênica, levando o espectador a cenas bastante simbólicas como quando a “Criatura” sai pelas ruas, descobrindo um mundo até então escondido para ela, e se depara com carros, movimento, barulhos, pessoas e diferentes situações. Como, também, o momento em que a Criatura está sendo “montada”, onde a destreza e técnica usada pelos atores, na manipulação das cabeças, gera um jogo de ilusão de óptica. As cenas encadeiam-se em uma construção com ritmo e nuances, que o imagético se mostra tão presente e forte quanto o próprio texto, quando não mais.
Instigante, com escolhas estéticas que dialogam com a criança e adolescente, de forma atual e moderna, sem perder a ludicidade e encantamento provocados ao se ouvir e contar uma história, Frankinh@ - uma história em pedacinhos é um trabalho de composição de linguagens que perpassa o corpo e suas dramaturgias, as visualidades e suas “ilusões”. Um mover-se e movimentar-se para propor a reflexão, a diferentes idades, de temas latentes desde Mary Shelley aos dias atuais, com perspicácia, tendo em vista suas devidas proporções e camadas.
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Elenco: Fabiane Severo, Liane Venturella e Thiago Ruffoni
Direção: Camila Bauer
Direção de movimento: Carlota Albuquerque
Dramaturgia: Camila Bauer e Marco Catalão
Colaboração dramatúrgica: Liane Venturella
Sonografia: Álvaro RosaCosta
Pianos e voz: Simone Rasslan
Cenografia: Elcio Rossini
Adereços: Elcio Rossini e Liane Venturella
Iluminação: Ricardo Vivian
Figurino: Daniel de Lion
Maquiagem: Marília Ethur
Psicóloga convidada: Camila Noguez
Arte gráfica: Jéssica Barbosa
Direção de produção: Fabiane Severo
Realização e Produção: Projeto Gompa