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<h2>Antonia nos ensina sobre vida e morte</h2>

Antonia chega avoada, vestida de noiva, distribuindo piadas em um espanhol, para dizer o mínimo, bem particular.  Exasperada, reclama que Virgílio consome a vida a recortar estampas de celebridades jovens das páginas de revistas de fofocas. Farta da apatia do companheiro, convida o público a se juntar a ela em um jogo. As regras são simples, mas graves: há que se morrer para matar os próprios medos.

O enredo acima, livremente baseado na peça Dos Viejos Pánicos, do cubano Virgilio Piñera (1912-1979), é o ponto de partida de El Juego de Antonia, direção de André Carreira que tem Luciana Paz e Sergio Lulkin vivendo o casal às turras.

A origem de El Juego de Antonia está no convite de Luciana para que Carreira a dirigisse na segunda fase do projeto Três Direções de Escuta. A primeira etapa foi uma performance dirigida por Matteo Bonfitto, em que a atriz se instalava em locais públicos com duas cadeiras e um cartaz, convidando o público a repartir confidências com ela.

Carreira, diretor dos grupos teatrais Experiência Subterrânea (SC) e Teatro que Roda (GO), caracteriza seus trabalhos pela ocupação de espaços não tradicionalmente teatrais e pela pesquisa da proximidade entre cena e público, em busca de uma intimidade mutuamente transformadora para atores e espectadores.

El Juego já foi encenada ao ar livre, como no Recanto Europeu do Parque da Redenção ou na Travessa dos Cataventos da CCMQ, e em espaços fechados, como em residências particulares ou no Museu Joaquim Felizardo. A cada novo local, o jogo se transforma e multiplica sentidos, incorporando mudanças na encenação.

Quando ocupou o Memorial do Theatro São Pedro, por exemplo, o público transpunha com solenidade várias portas até chegar ao cenário da cena final. Na temporada paulistana, os espectadores aguardavam na frente de um casarão até a chegada de Antonia e Virgilio. Na residência de Ana Luiza Azevedo e Giba Assis Brasil, a ação se estendia por sala, cozinha, pátio e estúdio, celebrando a intimidade.

Um dos momentos mais fortes do espetáculo, entretanto, nunca muda. É quando Antonia convida alguns espectadores a encenarem com ela seu assassinato. As sucessivas “execuções” garantem cenas saborosamente cômicas e afirmam que a arte de todos e o riso de si são armas poderosas para abater a finitude, a mediocridade e o medo - as várias máscaras da morte.

El Juego de Antonia não propõe uma receita – antes é um exemplo de coragem artística ao aceitar e buscar força e inspiração no imprevisto e no desconhecido. Como a defender que quem diz sim, especialmente para si próprio, já está com parte do jogo ganho. Esse é o prêmio maior que os convidados de Antonia levam para casa.

projeto Cenas Mínimas, do Departamento de Difusão Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, estreia uma série de produções cênicas em pequeno formato com a peça El Juego de Antonia

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