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Heiner Müller (1929-1995), segundo a célebre leitura empreendida por Hans-Thies Lehmann, é um dos principais expoentes do teatro dito pós-dramático. Se o teatro dramático se funda na representação de um enredo ficcional por intermédio de atores que se identificam plenamente com seus personagens e tem na fábula o seu principal alicerce – no drama, a fábula garante o encadeamento causal e portanto a inteligibilidade de todas as ações representadas –, o teatro pós-dramático surge em uma época, a segunda metade do século XX, na qual a crença iluminista no progresso e no sentido da história não tem mais como ser sustentada. Tendo sentido na pele o impacto devastador das experiências totalitárias, Müller assumiu o compromisso ético de não mentir, de não apresentar ao público uma imagem fechada do mundo, seja através de uma história com princípio, meio e fim, seja através de personagens dotados de uma psicologia individual capaz de explicar univocamente o sentido de suas ações.
Esse compromisso ético tem uma série de implicações formais claramente visíveis no texto de Medeamaterial. Composto pela montagem de (três) fragmentos textuais de procedências diversas; podendo ser encenado, de acordo com as rubricas do próprio Müller, nos locais mais disparatados (“um lago em Straussberg, que pode ser uma piscina barrenta em Beverly Hills, ou as instalações de banho de uma clínica de repouso”); contendo em si temporalidades contraditórias (na qual convivem tragédia grega, camisinhas Jontex, lixo industrial e bombas que patrocinam o progresso) e personagens multifacetados que jamais chegam a ganhar contornos claros (“je est un autre”), o texto de Medeamaterial exige que cada leitor produza o(s) próprio(s) caminho(s) em meio à tão intrincada floresta de signos. Trata-se, em última instância, de um experimento teatral que propõe um exercício de liberdade, aliás não muito distinto daqueles propostos pelas peças de aprendizagem (Lehrstücke) do jovem Brecht, referência fundamental de Müller.
A convivência de elementos tão heterogêneos e a destruição da regra clássica das três unidades (tempo, lugar e ação) estabelece, no entanto, algumas diretrizes (tanto estéticas quanto sobretudo éticas) para a encenação de Medeamaterial. O caráter alegórico e inorgânico do texto de Müller, que pressupõe a morte do “belo animal” de que falava Aristóteles, exige de seus possíveis encenadores que não tentem ressuscitá-lo, que não cedam à tentação de manejar o material de Müller no sentido de restaurar o privilégio da fábula e portanto de fornecer ao público uma imagem coerente da história. Diversos procedimentos podem ser mobilizados no sentido de impedir esse retrocesso e, como o próprio título de Medeamaterial indica, é fundamental a ênfase na materialidade da cena teatral, que tende a se aproximar de outras formas artísticas, como a performance, as artes visuais, a vídeo-instalação, a música e a dança.
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