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Carol Martins, Juliana Coutinho e Renata Ibis, diretoras e performers de Atma, se propuseram um desafio tão original como perigoso: conduzir o público ao longo de uma viagem sensorial que tem por destino a redescoberta da nossa alma (atma, em sânscrito).
O itinerário da viagem tem um quê de ficção científica. O espetáculo de 45 minutos se inicia com as três em rigidez robótica, ligadas entre si por tubos. A maquiagem e os cortes de cabelo sugerem seres humanos desumanizados e andróginos. Em seguida, libertas, vão redescobrindo habilidades, interagindo com o espaço e com o próprio corpo na forma de acrobacias aéreas, coreografias e malabarismos. Basicamente, se desconectam do mundo material e vão buscar ligação com níveis superiores de consciência. É um modelo simples e convencional de jornada de autoconhecimento, comum a quase todas as narrativas desse tipo.
A evocação do universo da ficção científica é interessante por lidar com elementos como falta de gravidade e distorções óticas, que servem para exibir os talentos de Renata, Juliana e Carol. Mas é justamente aí que reside a maior dificuldade de Atma. Ao se aproximar de um ambiente sci-fi, elas se defrontam com um espectador acostumado com miríades de efeitos especiais, turbilhões de luzes e habilidades super-humanas. Como lidar com essa expectativa, praticamente de outro mundo?
Há várias qualidades em Atma. A iniciativa estética é elogiável, e o espetáculo inclusive foi indicado como destaque no Prêmio Açorianos de Dança do ano passado por conta da exploração de uma linguagem que aproximasse a dança contemporânea e as artes circenses. A trilha sonora assume com competência a missão de estabelecer um desenho dramático para Atma. Outro acerto é quando as performers se impõem por vezes um ritmo excepcionalmente lento, reforçando a ideia de que estamos em uma dimensão especial.
A iluminação indica um caminho a ser explorado. Graças à versatilidade de um projetor de mão, é possível estampar vídeos nos corpos das performers e descobrir ângulos surpreendentes de uma sala de teatro, no caso as paredes laterais da Sala Álvaro Moreyra. Uma solução simples, mas eficiente. Como especulação, talvez se pudesse explorar mais o trabalho de sombras, que aparecem muito ocasionalmente.
O fato de as sombras sugerirem mais do que exibirem nos sugere outra dificuldade de Atma. Compor o ambiente com um cenário físico é mais problema que solução. Pedaços de manequins distribuídos pela sala podem materializar nossa desintegração e alienação física, mas se constituem em uma alternativa limitada para questões que poderiam ser resolvidas em cena.
A viagem chega ao final oferecendo algumas experiências sensoriais, sem maiores voos. Os momentos instigantes ocorrem quando Atma não se pretende espetacular e busca o detalhe que provoca. É na simplicidade, como quando Renata, Juliana e Carol se juntam e aparentam ser um só corpo ou quando compartilham o trapézio no final, que Atma contorna suas limitações e vislumbra possibilidades ao efetivar o espectador como um companheiro de viagem e lhe delegar a recriação do que está em cena.
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ATMA Direção e performance: Carol Martins, Juliana Coutinho e Renata Ibis Orientação cênica: Carla Cassapo Produção: Carol Martins Orientação coreográfica: Juliana Coutinho Cenografia: Renata Ibis Figurino: O grupo Iluminação: Mirco Zanini Trilha sonora: Julius Rigotto Operação de som: Vado Vergara Vídeos: Fredericco Restori e João G Queiroz Projeções ao vivo: João G Queiroz Henrique Fagundes Fotografia de cena: Pedro Lunaris Adereços: Luís Cocolichio Duração: 45min Recomendação etária: 16 anos